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BEM VINDO 2012

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sábado, 14 de março de 2020

VERMES

VERMES DA RESSURREIÇÃO
j.Torquato

BOM DIA ANOMALIA
EU SOU A TRISTEZA
NÃO TENHO DNA DE ALEGRIAS
TOLICES ALEGRES PARA ESCONDER
QUE SOMOS MENOS QUE NADA
QUE SÓ RESPIRAMOS ATÉ FALTAR O AR
QUE NOS ENGANAM COM DOCES DE ALEGRIA, FANTASIA,
HUM ANIDADE CRÉDULA INCONSCIENTE DE SUA INFERNAL AZIA
NADA FIZEMOS PARA A MERECER, MAS ESTAMOS NELA, POR APATIA
DEEM O NOME QUE QUISERAM, PURGATÓRIO É QUE NÃO É SORRIA
NÃO VIEMOS DE CANTO ALGUM E NEM VAMOS PARA CANTO NENHUM
PEÇO VÊNIA E ME MOSTRE AS PROVAS AO CONTRÁRIO.
É DE TRISTEZA QUE VIVERÍAMOS SE NÃO NOS ENGANASSEM
ARRUMARAM TV, RÁDIO, ESTÁDIO, TEATRO, CINEMA.
ARRUMARAM CACHAÇA O MEL DO ESQUECIMENTO LEMBRADO.
ARRUMARAM A DANÇA, A MÚSICA, A ARTE, O CORPO FEMININO
DISTRAÇÕES PARA A IDIOTIZAÇÃO HUMANA MUNDIAL.
NADA SOMOS E NUNCA SEREMOS, NÃO TEMOS SEMENTES E NÃO FAREMOS SEMENTES.
DEPOIS DE UMA DÉCADA NINGUÉM NEM SABERÁ COMO FOI TUA FACE, TEU SORRISO, TEU SABOR, TUA TEXTURA. TUAS PALAVRAS;
RAROS SEREM AINDA SÃO LEMBRADOS, DENTRE QUATRILHÕES QUE JÁ EXISTIRAM
UM SÓ UM DE CADA VEZ.
UM DE CADA VEZ, NASCE EXPERIMENTO, CRESCE NO MICROSCÓPIO UNIVERSAL, E DEPOIS É DESCARTADO NA TUMBA DO ESQUECIMENTO GERAL TOTAL E IRREVERSÍVEL.
MORREU, FOI, ACABOU PARA UM INDIVÍDUO, NASCE UM GERME, UM VERME, É A RESSURREIÇÃO HUMANA AMÉM.

EM AL-13/03/20

Torquato
Enviado por Torquato em 14/03/2020
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quinta-feira, 12 de março de 2020

PÃO SECO

PÃO SECO E ÁGUA SUJA




PÃO SECO COM ÁGUA SUJA QUE CHAMAMOS DE CAFÉ, DIARIAMENTE E UMA SÓ VEZ POR DIA, COMIDA MESMO SÓ UMA OU DUAS VEZES POR MÊS, A SANDÁLIA JAPONESA JÁ ESTOURADA DIVERSAS VEZES TEM MAIS DE 10 ANOS. A BERMUDA JÁ NÃO TEM COR, A RENDA NOSSA FIXO É DE 164,00 DE 2 BOLSA FAMÍLIAS, O RESTO NÓS VENDEMOS, COMO INHAME, E ALGUMAS VERDURAS QUE AINDA DÃO AQUI,NA FEIRA. O QUE COMPLEMENTA O LEITE EM PÓ DO MENOR. QUANDO CHEGA ÉPOCA DE ELEIÇÕES, APARECE VÁRIOS CANDIDATOS, TRAZENDO CARRO PIPA, CHINELOS NOVOS, CALÇA E BERMUDAS, CAMISETAS DE PROPAGANDA DELES,E DINHEIRO, TESOURO QUE NÓS NÃO TEMOS MORAL ESTOMACAL PARA RECUSAR. E MAIS QUE SABEMOS QUE NADA VAI MUDAR MESMO.
 PIOR TEMOS DE VOTAR NELES SE NÃO, SE A GENTE ENGANAR E NÃO VOTAR NELES, ELES FICAM SABENDO PELA CONTAGEM DAS SECÇÕES ELEITORAIS QUE O TRE DIVULGA PARA ELES CONFERIREM QUANTOS VOTOS TEVE EM CADA SETOR.
NO DIA SEGUINTE DAS ELEIÇÕES APARECE CABEÇAS ENFIADA NOS TRANCOS DAS CERCAS, CABEÇAS QUE MENTIRAM E VOTARAM EM OUTRO CANDIDATO.
SE VOCÊ ACHA QUE É FÁCIL FAZER UMA ANÁLISE E JULGAR-NOS, OS SERTANEJOS ANALFABETOS E SOBREVIVENTES DA MISÉRIA NORDESTINA, ENTÃO O FAÇA COM CIÊNCIA DO FATO. TENHO DITO j.Torquato
Torquato
Enviado por Torquato em 12/03/2020
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segunda-feira, 9 de março de 2020

DNA CRIMINOSO DA FAMÍLIA DE F.H.C

“Avô de FHC propôs fuzilar a família real”

Em entrevista sobre o livro 1889, o jornalista Laurentino Gomes comenta as contradições que marcaram a troca do regime monárquico pelo republicano no país, fala do perfil aguerrido do brasileiro e, principalmente, do avô de Fernando Henrique Cardoso, alferes que propôs fuzilar a família real caso ela resistisse ao exílio – um perfil sanguinário distante do jeito manso do neto que seria presidente da República criada por ele.
LAURENTINO_CAPA1889
Alguns estudiosos entendem que o conceito de revolução implica mudanças profundas na sociedade e participação popular. Este foi o caso da nossa República?
Esse conceito de revolução é discutível. Acho que a gente nunca teve nenhuma revolução no Brasil, se tomar esses critérios. A Independência e a República, assim como a Revolução de 1930, foram movimentos de grupos restritos. O que o Brasil tem muito na sua história é golpe de Estado. Mas a gente pode dizer também que a campanha das Diretas Já, trinta anos atrás, foi uma revolução que pôs fim ao regime militar, provocou uma ruptura drástica e contou com o povo na rua. Acho que foi uma segunda Proclamação da República, uma revolução pacífica, a partir da qual estamos vivendo trinta anos ininterruptos de democracia.
Quando o senhor lançou 1822, depois do sucesso de 1808, disse que um livro (assim como o acontecimento que o pautava) era consequência do outro. 1889, e o acontecimento que marcou este ano, a Proclamação da República, também pode ser considerado consequência do projeto monárquico brasileiro, inaugurado em 1822?
Sim. Existe um Brasil inacabado após a Independência. Em razão da vinda da corte de Dom João VI para o Rio de Janeiro, o Brasil não enveredou por um projeto republicano como os países vizinhos da América Espanhola. O ambiente de corte que se criou no Rio e a Independência feita pelo herdeiro da Coroa Portuguesa levaram à instalação da monarquia e a um governo militarmente forte para sufocar movimentos separatistas, como a Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador (1824) e a Revolução Farroupilha (1835-1845). Mas o ideal republicano existe e vai crescendo, como uma represa que enche, enche e uma hora estoura. É realmente uma mudança brusca de regime, mas eu diria que ela teve as suas raízes plantadas mais pela própria monarquia do que por uma vontade popular. Os republicanos faziam barulho, mas não tinham apelo. Em parte também pelos vícios do sistema eleitoral, que era bastante fraudulento, é verdade, mas o fato é que eles não conseguiam seduzir a opinião pública da época e se viabilizar como alternativa eleitoral no Império. Então, eles embarcam no golpe militar do marechal Deodoro. Eles insuflam o Exército, através dos jornais, contra o governo e acabam fazendo a troca de regime pela força. Mas essa troca é consequência direta de uma obra inacabada na época da Independência.
Falar nas revoltas que marcaram a história do país faz lembrar das manifestações ocorridas neste ano. Na sua opinião, o Brasil é um país com vocação para o protesto?
É, sim. É um grande engano essa ideia de que o brasileiro tem uma índole pacífica, tranquila, que aceita as mudanças políticas sem contestação. Essa é uma mitologia criada na época do Império, a ideia de que o Brasil tinha um pai, um soberano intelectual, bondoso e forte, que mantinha os conflitos sob controle, apaziguava os ânimos, fazia um encontro dos diversos interesses, facilitava a negociação das divergências. Não é à toa que o homem que mais se meteu em confusão na história do Brasil, o Duque de Caxias, que atuou na Cabanagem, na Balaiada, na Sabinada, na Revolução Farroupilha e na Guerra do Paraguai, passa para a história com o título de “O Pacificador”. Ele reflete essa mitologia do Império, essa versão oficial da história que diz que a gente consegue resolver tudo no consenso. A história real do Brasil é cheia de sangue, sofrimento e milhares e milhares de vítimas.
Os republicanos tinham influência dos Estados Unidos (a bandeira do grupo era parecida com a americana e o Brasil foi chamado de Estados Unidos do Brasil na primeira Constituição republicana), mas também da França (a Marselhesa era tocada pelos militares, que admiravam Auguste Comte). Que país influenciou mais os republicanos brasileiros?
Eram de fato dois faróis que fascinavam e meio que ofuscavam os republicanos no século XIX. De um lado, há o modelo da república liberal dos EUA, que tinha apelo entre os paulistas, os intelectuais e os fazendeiros de café do oeste, como Campos Salles, Prudente de Morais e Bernardino de Campos, além de uma parte dos intelectuais do Rio. Mas no balanço geral a França exerce influência maior, pela forte presença do positivismo de Auguste Comte entre os militares, que defendiam uma ditadura como forma de consolidar a República no Brasil. E uma parte mais radical da intelectualidade era fascinada pelo modelo revolucionário da república francesa. O advogado Silva Jardim, por exemplo, queria fuzilar a família imperial.
O alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso, avô do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também defende que a família real seja fuzilada, caso resista ao exílio. Você conversou com FHC sobre o caso?
Essa história é maravilhosa, o avô sanguinário do Fernando Henrique (risos). Não falei com ele sobre isso, mas acho que ele vai se surpreender com essa passagem. E com aquela em que o bisavô envia um telegrama para o filho, o Joaquim Inácio, reclamando da república que ele ajudou a fundar. É muito engraçado. (De Goiás, o Capitão Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, bisavô de FHC, escreve um telegrama ao filho no Rio, caçoando da república recém-proclamada: “Vocês fizeram a república que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado”.)
O que explica a adesão tão grande dos militares ao pensamento de Auguste Comte e a durabilidade dessa parceria, que também tocou Vargas e teve ecos no golpe de 1964?
O Brasil era e continua sendo grande, instável e com muitas diferenças regionais, além de discrepâncias sociais, pobreza, analfabetismo, latifúndio. Por isso, sempre houve medo de que o projeto de construção nacional pudesse descambar numa guerra civil ou étnica. Desde a Colônia, a ideia era manter primeiro a ordem para depois ter progresso. Sem ordem, não há progresso. E os militares são os maiores avalistas dessa ideia. Toda vez que a integração nacional se viu ameaçada por revoltas ou rebeliões, foi o Exército que entrou em campo para impor a ordem e impedir a fragmentação territorial. Então, não é por acaso que o positivismo de Auguste Comte, que defendia uma ditadura republicana, ou seja, o governo de uma pequena elite capaz de manter a ordem e obter o progresso, seduz tanto os militares. Quanto a Getúlio, ele era filho do Manoel Vargas, que era aliado do Júlio de Castilhos, um dos republicanos mais fervorosos do Rio Grande do Sul, província onde o positivismo era forte. Ele foi criado na escola positivista. Já os militares de 1964 eram herdeiros desse grupo.
Que peso a Guerra do Paraguai teve na Proclamação da República? O fortalecimento do Exército no conflito foi mais decisivo que o medo que um Terceiro Reinado, com uma rainha carola e um rei estrangeiro, inspirava na população e que a perda de apoio dos fazendeiros do Vale do Paraíba ao fim da escravidão? Ou a República foi uma somatória de tudo isso?
Uma coisa que me surpreendeu na pesquisa para esse livro foi perceber como o Império lançou as sementes para a própria destruição. A República chega menos pelo vigor do movimento republicano que pela fragilidade do Império. Dom Pedro II era claramente um monarca de alma republicana. Nas cartas que manda para a condessa de Barral (amante apontada como a grande paixão da vida do imperador), ele diz que gostaria que o Brasil fosse uma República, que ele preferia ser presidente a monarca. E o Império é de fato o período em que os brasileiros gozam da maior liberdade de expressão experimentada na história – com exceção do presente – e isso serve de combustível para o movimento republicano. Mas havia de fato o problema do Terceiro Reinado. Dom Pedro no fundo sabia que a possibilidade de a sua filha, uma mulher casada com um príncipe estrangeiro, o Conde d’Eu , assumir o trono era muito remota em um país ainda tão conservador e machista. Para piorar, você tem a abolição da escravatura, que tira o pé de apoio do Império, fixado na aristocracia rural do Vale do Paraíba, e a inabilidade de o governo imperial lidar com as demandas militares. Isso também explica por que ninguém se levantou para defender a monarquia, em novembro de 1889.
A decisão de Dom Pedro II de nomear Silveira Martins, rival de Deodoro, como chefe do gabinete de ministros foi uma das bobagens feitas pelo monarca. Ele também deu combustível ao republicanismo ao insistir em nomear um gabinete de ministros de conservadores, em 1868, irritando os liberais, que então dominavam a Câmara dos Deputados. Apesar disso, foi tido como um grande estadista. Ele era de fato hábil na política?
Ele teve habilidade de manter o Império integrado por quase meio século. Mas tinha contradições. Era considerado um dos soberanos mais letrados do século XIX e governava um país de analfabetos. Era um soberano liberal e tolerante, mas seu país tinha escravos. Ele sonhava com um Brasil moderno, integrado à comunidade científica internacional, mas era um país dominado pelo latifúndio. Ele representava um país de fachada. E quando ele fica velho, doente, incapaz de levar adiante essa farsa, a fachada desmorona e o Brasil real se impõe.
O que explica a amizade entre D. Pedro II e o escritor Victor Hugo, personagens tão opostos politicamente?
Essa história é interessante. Dom Pedro II vai a Paris e pede para Victor Hugo, de quem era fã, visitá-lo no hotel. Mas Hugo, que era a face mais importante do movimento republicano, não queria nada com o imperador do Brasil e manda dizer que não visita ninguém. Então D. Pedro vai até a casa do escritor e bate na porta dele, que fica constrangido de mandá-lo embora. Eles passam horas conversando e se tornam amigos até o fim da vida. É uma amizade que transcende as fronteiras ideológicas e acontece no campo puramente intelectual.
Ainda sobre as amizades de Dom Pedro II: o texto na contracapa de 1889 diz que ele e o marechal Deodoro da Fonseca eram amigos. Eles eram próximos, mesmo?
Não chegavam a ser íntimos, mas havia uma admiração. Deodoro disse que gostaria de carregar as alças do caixão do imperador. Ele se considerava realmente um súdito do imperador, o que torna a atitude do marechal, no dia 15 de novembro de 1889, ainda mais estranha. Um ano antes, ele escrevia cartas para o sobrinho Clodoaldo, no Rio Grande do Sul, dizendo que República e desgraça eram a mesma coisa. Ele era claramente um monarquista. Mas era também um homem vaidoso e magoado. Um copo de mágoa transbordado. Ele se considerava desprestigiado pelo governo imperial, achava que o Exército era desconsiderado nos seus méritos. Acaba dando o golpe republicano mais por mágoa pessoal que por convicção política.
Entre as mágoas pessoais do marechal, está a rivalidade com o fazendeiro gaúcho Gaspar da Silveira Martins, para quem ele havia perdido a baronesa do Triunfo.
É, tem uma história de alcova que ajuda a explicar a decisão do Deodoro na madrugada de 16 de novembro. Porque ele havia destituído o ministério do visconde de Ouro Preto, mas não havia proclamado a República até ali, até saber que Dom Pedro II havia escolhido Silveira Martins para chefiar um novo ministério.
Foi também pela vaidade de Deodoro que o professor Benjamin Constant, mentor político dos alunos na escola militar, foi ofuscado em seu papel de herói republicano?
O Benjamin Constant é um personagem surpreendente. Não dá para entender o processo de troca de regime sem estudar o papel do Benjamin Constant. Ele foi o mentor intelectual daquela mocidade militar que fez o golpe contra o Império em novembro de 1889. Mas é um homem com dificuldades pessoais enormes, perdeu o pai cedo e tentou se suicidar quando adolescente, venceu diversos concursos públicos, mas perdeu a vaga por não ter padrinho, e vivia preocupado em desmentir a fama de medroso na Guerra do Paraguai. Na República, ele foi relegado a um papel secundário porque os militares tentam dar ao marechal Deodoro, que nem era republicano, o papel de pai do regime. Todos querem agradar o chefe novo. Na constituinte de 1891, por uma proposta do jornalista Quintino Bocaiúva, o Benjamin Constant seria aclamado o fundador da República, mas o Deodoro fica ensandecido com isso, e essa é uma das razões pelas quais ele fecha o Congresso e mais tarde renuncia.
A maçonaria teve papel importante em 1822 e 1889. O senhor sabe dizer se ela ainda é relevante hoje na política nacional?
Não é. Hoje existem cerca de 150 000 maçons no Brasil, eles estão profundamente divididos e já não têm nem sombra do papel político que desempenharam no passado. Quando havia de fato uma razão para isso. Na época da Independência, não existiam partidos políticos capazes de organizar, de canalizar o debate a respeito das coisas que precisavam ser decididos naquele momento. E isso acontecia nas lojas maçônicas. A maçonaria, tanto como a Igreja Católica, funcionou como um proto-partido. Na proclamação da República, a maçonaria esteve presente, mas já não tinha a importância que possuía na Independência. Ela vai aos poucos cedendo lugar a outras instituições.
O senhor encerra o livro dizendo que o desafio de que os brasileiros se encarregam hoje é a incorporação do povo na construção do seu futuro. Na sua opinião, o país tem se saído bem?
Considerando a nossa história, sim. Porque a democracia é recente no Brasil, o país está aprendendo agora a exercê-la. A democracia é difícil, é um pacto entre milhões e milhões com interesses divergentes, rumo ao futuro. E o Brasil sempre tentou atalhar caminho na sua construção pela via autoritária. Sempre houve a figura de um homem forte que se arrogava o papel de tutelar os demais, como se a sociedade fosse incapaz de se governar. Nós ainda discutimos as regras do jogo republicano, o papel do Congresso, do Judiciário. Já uma democracia madura, como a dos Estados Unidos, discute políticas públicas. A nossa tarefa atual é concluir o desafio de construir o Estado republicano brasileiro.

DOM PEDRO II NAS ÁGUAS DO NORDESTE

Viagem de Dom Pedro II à cachoeira de Paulo Afonso completa 159 anos no dia 20 de outubro

 

Cachoeira de Paulo Afonso, em fotografia perdida no incêndio da Biblioteca Nacional (RJ)

Cachoeira de 'Paulo Affonce' desenhada por Pedro II | Foto: Museu Imperial (RJ)
Mapa com a rota da visita imperial ao Nordeste (então Norte), em 1859 | Foto: Museu Imperial (RJ)

O traço de aventureiro é um dos que mais se destacaram na personalidade multifacetada do imperador dom Pedro II. Também ficou famoso por receber louvores exagerados e representar certa mistificação saudosista (para aqueles que a ele atribuem qualidades excepcionais). Tudo retrato da literatura apologética sobre esse personagem histórico. O fato é que a força da tradição explica a permanência do seu nome até hoje no imaginário brasileiro.  A constatação é do jornalista Davi Roberto Bandeira da Silva, ao abrir a reportagem 'A Cachoeira do imperador', adaptada para a web por Caroline Svitras em publicação na versão online da revista Leituras da História (Edição 73, Editora Escala), em 5 de maio de 2017.

Durante a sessão imperial, em 11 de setembro de 1859, d. Pedro II avisou: “Para melhor conhecer as Províncias do meu Império, cujos melhoramentos morais e materiais são alvo de meus constantes desejos e dos esforços do meu governo, decidi visitar as que ficam ao norte da do Rio de Janeiro.” Ele realmente adorava viajar, impulsionado pela curiosidade de conhecer novas paisagens, populações diferentes, admirar a flora e a fauna. E entre as muitas viagens e explorações feitas, o imperador registrou em seu diário a história de sua visita à exuberante cachoeira de Paulo Afonso, nos sertões das Alagoas.

Viagem insólita

Em 1859, d. Pedro II iniciou sua visita às Províncias do Norte do Brasil (hoje Nordeste brasileiro). Foram 134 dias de andanças, paradas e festas nas Províncias para receber o imperador. O roteiro, como não podia deixar de ser, incluiu a famosa cachoeira de Paulo Afonso, por sua beleza e por estar em uma região estratégica, pois o imperador buscava obter mais apoio para seu governo, contextualizando, pois, a iniciativa viageira. O nome Paulo Afonso é dado à cachoeira como uma homenagem ao sertanista Paulo de Viveiros Afonso, que explorou a região. Alguns registros informam que por volta de 1725, o aludido sertanista teria recebido uma sesmaria situada na margem esquerda do Rio São Francisco. O donatário teria ocupado, além das terras recebidas, algumas porções de terras existentes do lado baiano, onde fundou uma aldeia denominada Tapera de Paulo Afonso.

De fato, após a longa estadia imperial, foram distribuídos muitos títulos nobiliárquicos de modo a assegurar suporte governamental. E, além disso, tempos depois, a realeza autorizou a construção de uma ferrovia na região, que seria denominada Paulo Afonso. O empreendimento iniciou as atividades em 1882, porém, como se constatou depois, foi um projeto que só traria prejuízos financeiros, sendo, por fim, desativado em 1964.

A viagem teve início em Salvador, na Bahia, no dia 12 de outubro de 1859. Nessa data, o imperador e toda a comitiva – exceto a imperatriz Teresa Cristina, que permaneceu em Salvador – seguiram viagem no vapor Apa. Estavam a bordo o presidente da Província de Sergipe, Manuel da Cunha Galvão; o conselheiro João de Almeida, ministro do Império; visconde de Sapucaí, camarista; e o barão de Atalaia, além de comandantes, capitães de bordo, senhores de engenho, diretores de escolas, correspondentes de jornais e outros convidados.

No percurso, o imperador consultava as notas escritas por Silva Caroatá e Vieira de Carvalho; além disso, tinha em mãos o mapa elaborado pelo engenheiro Henrique Halfeld, que, por ordem do Império, desenvolveu estudos técnicos entre os anos de 1852 e 1854, na região do Rio São Francisco.

A primeira parada foi no dia 14 de outubro de 1859, em Piaçabucu, Alagoas, quando o Apa atracou, ocasião na qual o monarca foi recebido com muita festa e música de rabecas. Simpático, ele percorreu rapidamente o povoado alagoano, visitou a capela e o colégio, cumprimentou a todos e se foi. Antes de galgar as águas do Rio São Francisco rumo a Penedo, em Alagoas, o soberano avisou, de antemão, ao presidente daquela Província, Manuel Pinto de Souza Dantas, também a bordo, que pretendia excursionar pela Província das Alagoas por no máximo 15 dias. E lá se foram. No mesmo dia, houve o transbordo na Ilha do Betume e o grupo chegou ao seu destino, dessa vez, a bordo da embarcação Pirajá.

“Viva o imperador!”

Em Penedo, d. Pedro II foi recebido mais uma vez com euforia pela entusiasmada multidão que ali aguardava a frota imperial, aos gritos frenéticos de “Viva o Imperador!” Em seguida, foi conduzido pelos representantes locais, além das autoridades civis, eclesiásticas e do povo em geral. Ele, normalmente, desembarcava trajando calça branca, paletó preto e chapéu de palha coberto de pano de linho. Todo esse aparato receptivo ao desembarque imperial revela aspectos simbólicos que consubstanciam a força política da cidade, em que pesem as ostensivas adulações, nos ritos de chegada, encurtando a distância entre os governantes e o povo, sempre distante do contexto decisório.
Em solo, o monarca participou do te-déum (cântico de Ação de Graças) e, como de costume, visitou as igrejas, fazendo observações sobre os traços mais interessantes da arquitetura; conversou com os jovens nos colégios e visitou as fábricas de produção de óleo de mamona, de preparo de arroz e os alambiques de aguardente. Após tantos compromissos, ao deixar Penedo, em 16 de outubro, continuou o estafante percurso rumo a invadir o sertão.
Prosseguindo em seu itinerário, o imperador, ao visitar Propriá, no Sergipe, fez mais um exercício de suas funções, entre as quais podemos destacar sua preocupação de vistoriar escolas, capelas, hospitais e assistir ao te-déum. Lá, demorou-se algum tempo, salientou o despreparo dos professores e a inutilidade das aulas ministradas em alguns colégios. Como de costume, o roteiro era quase sempre o mesmo: fez doações polpudas à Igreja, aos pobres e comprou a liberdade de escravos. Afinal, o principal objetivo da viagem era ganhar apoio, atendendo aos interesses políticos locais e preservando sua figura de majestade. Frisa, entretanto, que foi impossível deixar de perceber a extrema miséria da população.

Seguindo o roteiro, ainda por Alagoas, deixou no diário sua impressão sobre a vila de Pão de Açúcar: “O nome da vila não é bem cabido, pois que o morro é antes um mamilo pedregoso do que Pão de Açúcar.” Continuando a jornada, o vapor Pirajá atraca na povoação de Piranhas, onde Pedro II destaca a aparência pobre do lugarejo: “O aspecto do lugar é tristíssimo e o calor é horrível.” Dali em diante, o trajeto seria feito a cavalo, sob o comando do guia, major Manuel Calaça, proprietário de grande fazenda naquela região, que passava informações curiosas sobre a fauna e a flora do sertão, falando muito, por exemplo, sobre o xiquexique, o mandacaru e a quixabeira. O monarca ficou impressionado com a vegetação da caatinga, bem como destacou os trajes, os costumes e o desembaraço dos nativos sertanejos.

Prestes a comemorar seus 34 anos, Pedro II enfrentou muitas dificuldades durante o trajeto à cachoeira – devido à extensa distância, ao calor insuportável e à escassez de água. Por outro lado, mostrou-se afável, apesar do visível incômodo com o intenso clima do sertão. O jovem monarca traçou, no diário, relevantes esboços dos lugares por onde passava e de seus acidentes geográficos.
Deslumbrante…

Ao amanhecer do dia 20 de outubro de 1859, o imperador chegou à famosa cachoeira de Paulo Afonso. Pôs-se logo a apear e a percorrer vários pontos da cachoeira, examinando tudo o que observava na natureza que, ainda não sabia ele, futuramente seria sacrificada pelos interesses do progresso nacional.

Ao começar a descida pelos rochedos, ele se deparou com a magnífica vista. Não hesitou diante do risco das quedas e escalou trechos perigosos na ida à furna dos morcegos, inclusive “dando, contudo, três quedas nesta última exploração” – devido a essa incidência, escreveu no diário. Em suas anotações, em um misto de admiração, de espanto e de alegria, registrou: “Tentar descrever a cachoeira em poucas páginas, e cabalmente, seria impossível, e sinto que o tempo só me permitisse tirar esboços muito imperfeitos.” O correspondente do Jornal do Commércio evidenciou o contentamento do monarca diante daquele cenário: “Havia alguma coisa de solene na contemplação silenciosa do Imperador: a fadiga da viagem desaparecia de sua fisionomia.” Passou a noite em um barracão erguido pelo coronel Pedro Vieira, que não poupou esforços a fim de que nada faltasse à comitiva imperial.

O barão de Jequiá, o barão de Atalaia, o doutor Titara, o doutor Oiticica, o major Calaça, o tenente Joaquim Siqueira Torres (futuro barão de Água Branca) e o 2º tenente Augusto Mendonça foram alguns dos que acompanharam a visita imperial à cachoeira, além de muita gente que lá aguardava – vinda dos diversos lugares da região. Em face da educação rígida a que fora submetido, d. Pedro II se revelou nas visitas uma pessoa com inteligência orgulhosa, mas totalmente despojado da mesquinhez aristocrática.

Logo na manhã seguinte, 21 de outubro, a comitiva retornou, seguindo itinerário inverso. A tropa imperial chegou no dia 24 de outubro de 1859 em Penedo, de onde seguiu para a Bahia. Em Alagoas, ao todo, o percurso em navio a vapor foi de 212 km e a cavalo 60 km.

Justificando a importância dessa viagem, acredita-se, porém, que o objetivo primordial da visita à cachoeira não foi o simples desejo de tomar conhecimento, embevecido, da portentosa queda d’água, conforme exclama extasiado o monarca: “(…) O arco-íris produzido pela poeira d’água completava esta cena majestosa.” O valor da honrosa paisagem da cachoeira – por mais decantado que possa ter sido, ou descrito e louvado por nossos literatos – não compensaria o que se perdeu, sobretudo em tempo e esforço, com a interrupção da atividade cotidiana de líder da nação que, à luz das leis, era o emblema da unidade nacional. Em vista disso, foi o aspecto político que naturalmente envolveu a presença da maior autoridade do país na região, ancorado pelo Poder Moderador, que servia de “para-choque” entre os dois grandes partidos políticos: o Conservador e o Liberal, que então digladiavam.

Assim, é sob essa perspectiva que se torna plenamente compreensível a estafante viagem de dom Pedro II pelo Norte do país, que contribuiu para difundir, em massa, vários títulos nobiliárquicos em função de interesses determinados. Portanto, classificá-la como simplesmente aventureira seria minimizar o legado de sua controvertida vida política e cultural. Do mesmo modo, seu pioneirismo como desbravador ao apresentar as recordações sertanejas dos lugares visitados em um conjunto de informações (geográficas, etnográficas e paisagísticas) de inestimável valor para o Brasil.

Coincidentemente, aliás, na ocasião do banimento do território nacional da família imperial, em 1889, pelas forças da recém-proclamada República, Pedro II embarcou às pressas em um navio chamado Alagoas. Na ocasião, o então abnegado monarca, interrogou em alto e bom som: “Já que estou no Alagoas, por que não me levam para Penedo?” Certamente, seria bem-vindo…

A cachoeira do imperador: Em seu diário, d. Pedro II narra a exuberante paisagem da cachoeira de Paulo Afonso sem destacar os importantes contatos políticos que motivaram sua viagem>http://leiturasdahistoria.com.br/a-cachoeira-do-imperador/

Fonte: Leituras da História

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